Estrutura do cabeloAntes de falarmos sobre a estrutura do cabelo, veremos sobre a função fisiológica do cabelo.

O cabelo ou pelo para nossos ancestrais primitivos tinha a função de aquecimento e proteção do corpo. Hoje, mesmo não sendo vital para à sobrevivência humana, ele ainda exerce enorme impacto psicológico sobre os indivíduos.

Nos anos 1960, o comprimento do cabelo não era somente uma questão de moda, mas também de afirmação social e política. Algumas religiões insistem na ausência completa do cabelo, enquanto outras proíbem que ele seja cortado. Em algumas culturas, como a japonesa, a importância do cabelo para as mulheres era menor que a própria vida, acreditavam que a imortalidade do espírito feminino estava localizada no cabelo. 

Os registros mais antigos de estudos sobre o crescimento do cabelo vêm dos gregos antigos. Aristóteles notou que os eunucos* nunca perdiam cabelo. Séculos mais tarde, Júlio César ordenou que o Senado romano permitisse que ele usasse sua coroa de louros o tempo todo para esconder sua calvície. Ele também arrumava cuidadosamente seu cabelo para esconder o local calvo dos olhos de Cleópatra.

Dividiremos a estrutura do cabelo em duas partes:Estrutura capilar

  • Estrutura Interna
    • Folículo piloso
    • Papila Dérmica
    • Fio do cabelo
  • Estrutura externa
    • Medula
    • Córtex
    • Cutícula

 

♥ Estrutura capilar interna:

Os folículos se desenvolvem através da derme e epiderme, por um processo de mutação das células e possuímos cerca de 100mil folículos capilares no couro cabeludo. 

Primeiro, uma parte da epiderme cresce para baixo, no sentido da derme, criando um canal profundo chamado folículo piloso. Esse recém-formado canal folicular enrola-se ao redor de uma pequena parte do tecido da derme. A epiderme circunda essa parte da derme quase por completo. Esse processo de formação do folículo piloso* acontece por cerca de 5 milhões de vezes em média no corpo durante o período fetal.

Dessa maneira, o cabelo origina-se de uma invaginação da epiderme, comumente chamada de folículo piloso.

A papila dérmica fica localizada na derme e em formato de cone. Como o tecido epidérmico que forra o canal folicular não possui fornecimento de sangue próprio, o oxigênio e os nutrientes são supridos por meio de minúsculos vasos sanguíneos localizados na papila dérmica. O tecido da epiderme envolve completamente a papila dérmica para a formação do bulbo piloso e/ou capilar.

Se você puxar um fio de cabelo desde a raiz, poderá ver o bulbo capilar de tecido dérmico.

O cabelo cresce de um tipo diferente de células chamadas células-tronco. Até o final dos anos 1990, acreditava-se que as células-tronco se formavam na epiderme ao redor do bulbo e que o fio de cabelo crescia a partir dessa raiz. Atualmente, evidências científicas demonstram que essa teoria é incorreta.

Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia descobriram que as células-tronco se originam de uma pequena saliência, que se encontra sob as glândulas sebáceas e que está localizada ao lado do folículo piloso, o Bulge*. É nessa região que o fio de cabelo tem a sua origem.

Durante a formação do fio de cabelo, as células recém-formadas queratinizam-se no citoplasma da célula, que é completamente substituído por uma proteína chamada queratina. Dessa maneira, as células-tronco são produzidas e empurradas para o folículo, no qual uma coluna de células queratinizadas emerge do seu topo, estendendo-se acima do couro cabeludo.

As células queratinizadas do fio de cabelo não contêm citoplasma ou núcleos e morrem antes que o fio apareça na pele. A diferença fundamental reside no fato de que a fibra capilar ainda continua conectada com sua fibra interna, diferente da pele.

Outras estruturas especiais que estão ligadas ao folículo piloso é a glândula sebácea e o músculo eretor do pelo.

Enquanto o canal folicular cresce em direção à derme, outros fenômenos importantes acontecem ao longo desse processo de desenvolvimento. Por exemplo, pequenas protuberâncias, como sacos, surgem na parte superior do folículo, formando a glândula sebácea.

As glândulas sebáceas secretam sebo. O sebo secretado no folículo capilar lubrifica e condiciona tanto o cabelo quanto a pele. Em média, o corpo só produz 30 gramas de sebo a cada cem dias. Portanto, valorize e preserve a lubrificação natural do fio!

Uma segunda protuberância no folículo prende-se ao músculo eretor do pelo. Esse músculo direciona o fio do cabelo a ficar eriçado e é responsável pela sensação física dos arrepios na pele. Os arrepios nos ajudam a controlar o fluxo do sangue perto da superfície da pele e também a resfriar o corpo.

 

♥ Estrutura do cabelo externa:

A medula é a parte mais interna do fio de cabelo. Essa seção tem entre duas a cinco fileiras de células dispostas lado a lado. Normalmente, só os fios mais grossos e ásperos possuem medula, como o pelo da barba. Fios mais finos e naturalmente loiros é comum não possuir medula.

90% do peso total do cabelo vem do córtex, ele confere resistência, flexibilidade, elasticidade e cor ao cabelo. É composto de células queratinizadas, de forma quase retangular, que se conectam hermeticamente. A cor natural do cabelo existe em função do pigmento que está presente no córtex.

O córtex é revestido por uma camada de células sobrepostas transparentes denominada cutícula. Embora de estruturação simples, as células cuticulares formam numerosas sobreposições, dando a aparência, no corte transversal, de várias camadas de espessura. Um corte longitudinal de um fio de cabelo mostra que, embora as camadas cuticulares se sobreponham, cada uma delas está conectada ao córtex.

A cutícula é extremamente rígida e queratinizada, possuindo a função de proteger o córtex, que é mais delicado, e a medula. Sem essa proteção, o córtex se tornaria frágil e se degradaria facilmente.

A cutícula também age como uma barreira diante da ação dos meios químicos, como colorações e bases alisantes e onduladoras.

Essa barreira não é impenetrável. Um pH alto associado ao calor pode dilatar a cutícula, permitindo que os meios químicos penetrem no córtex. Uma vez que as camadas de cutículas são transparentes, é o pigmento no córtex que determina a cor natural do cabelo.

A aparência externa de uma cutícula saudável é regular e de textura lisa e coesa, além de possuir uma superfície hidrofóbica que resiste à fácil penetração. A superfície do cabelo é coberta por uma camada monomolecular, ligada pela covalência, de um ácido gorduroso, único, ramificado – ácido 18-metil eicosanoico (18MEA). Esse ácido, combinado com a proteína subjacente da epicutícula da queratina capilar, é chamado camada F. Por causa dessa camada, a superfície da cutícula é hidrofóbica. O modelo atual para a superfície da cutícula, proposta por Negri et al., 1993, é uma membrana proteica fina, muito resistente, presa na superfície externa com um ácido gorduroso de ligação covalente (18MEA) anexada por ligações de tio-éster.

Os elementos medula, córtex e cutícula compõem o fio de cabelo; no entanto é a quantidade de subfibras que confere ao cabelo resistência mecânica e física. O cabelo é uma superfície única e extremamente resistente que, quando está íntegro e molhado, pode estirar 40% a 50% da fibra, voltando ao seu estado normal, sem acúmulo de danos. E por esse motivo é resistente à exposição sucessiva ao calor, bem como ao uso dos meios mecânicos e químicos cotidianamente. Essas propriedades do cabelo têm origem na complexidade de sua estrutura.

Fibras que compõem o interior do fio:

O cabelo é formado por aproximadamente 91% de proteína de queratina*. As proteínas são feitas de longas cadeias de aminoácidos conectadas de ponta a ponta, a exemplo de um colar de pérolas. A ligação química que une os aminoácidos é chamada ligação de peptídeo, ou ligação final.

Uma cadeia longa de aminoácidos conectada às ligações de peptídeos é chamada polipeptídio. As proteínas são polipeptídios longos, enrolados e complexos, feitos de aminoácidos. O formato de uma proteína enrolada é chamado hélice ou alfa-hélice.

A estrutura do cabelo é constituída dos seguintes aminoácidos:

Ácido aspártico FenilalaninaProlina
GlutaminaGlicinaSerina
AlaninaHistidinaTirosina
ArgininaIsoleucinaTreonina
Aspargina Leucina Triptofano
Cisteína – Cistina*LisinaValina
Ácido Glutâmico Metionina

O córtex é feito de milhões de cadeias polipeptídicas, conectadas por três tipos de ligações ou pontes laterais:

  • Hidrogênio
    • São um tipo especial de ligação física iônica. Dentro da estrutura do cabelo, essa ligação ocorre quando um átomo de hidrogênio da porção ácida de um aminoácido se fixa em um átomo de oxigênio da porção ácida de outro aminoácido. As ligações de hidrogênio são facilmente rompidas pela água ou calor e configuram-se como as principais responsáveis pelas mudanças temporárias da forma do cabelo. Embora essas ligações individuais sejam fracas, há tantas delas no cabelo que representam um terço da força total dos fios.

  • Salinas
    • São uma ligação iônica física. Dentro da estrutura do cabelo, essa ligação ocorre quando uma carga negativa de um aminoácido se fixa a uma carga positiva de outro aminoácido. As ligações salinas são determinadas pelo pH e facilmente quebradas por soluções alcalinas ou ácidas que diferem do pH fisiológico do fio.

  • Dissulfeto
    • São uma ligação forte covalente e química. Essa ligação se une aos átomos de enxofre de dois aminoácidos de cisteína vizinhos para dar origem à cistina. Embora haja menos pontes dissulfeto que as de hidrogênio ou salinas, elas são significativamente mais fortes e representam um terço da força total do cabelo. As ligações dissulfeto não se rompem quando expostas ao calor ou à água. Os alisantes e onduladores químicos funcionam criando mudanças químicas e físicas permanentes nas pontes dissulfeto do cabelo.

 

Cabelos

As cadeias individuais de proteína são conectadas por ligações laterais para criar fibras minúsculas, invisíveis como linha. Pelo menos nove dessas fibras torcem-se em torno umas das outras para formar feixes maiores, chamadas microfibrilas. Dúzias de microfibrilas, por sua vez, torcem-se juntas para criar outras maiores, as macrofibrilas. Finalmente, seis macrofibrilas entrelaçam-se para formar fibrilas e as células do córtex.

Essa estrutura organizada é desenhada da mesma forma que os cabos resistentes usados para suportar pontes suspensas. As cadeias polipeptídicas da queratina estão unidas física e quimicamente. Milhões dessas células queratinizadas estão firmemente unidas ao córtex e cobertas por um escudo cuticular protetor.

 

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Resumo do capítulo 6 do livro Milady Tricologia e a Química Cosmética Capilar

Legenda:

Eunucos – homens ou meninos privados de seus testículos ou pênis. Homem castrado, que tiveram seus órgãos reprodutores removido. Termo usado como significado de estéril. Retornar 

Folículo Piloso – É definido pela estrutura dérmica que possui a dupla função de revestir e produzir o pelo. Já o termo folículo pilossebáceo é aplicado quando se trata do conjunto que abrange o folículo piloso com a glândula sebácea anexa.Retornar

Bulge folicular – É um conglomerado de células epiteliais indiferenciadas que contribuem para o crescimento do folículo piloso. Essas células-tronco são as responsáveis pela formação de um fio novo para substituir o fio quando o outro cair. Retornar

Queratina – É uma proteína complexa e insolúvel. O cabelo é formado quase completamente por essa substância, composta por dezoito diferentes aminoácidos, incluindo a cisteína (a forma reduzida da cistina).Retornar

Cistina – É um diaminoácido da cisteína que está em maior abundância no cabelo, equivalendo a 18% do total. Com tantas possibilidades de formação de pontes dissulfeto (enxofre), a cistina proporciona ao cabelo muito de sua elasticidade e é ainda responsável pela fixação da ondulação permanente. Retornar

Nath

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